Arts

Poetry

Soneto de Aniversário

Passam-se os dias, mudam-se as vontades
Clareiam-se as águas turvas da vida
Prossiga ela sempre dividida:
Descontentamento ou felicidades

Morram-se todas suas novidades
Faça-se a carne mais envilecida
Mas que se houver em teu peito hombridade
Terás em plano liso tua vida

Aproveitas tua ventura e tuas horas
E não adiais prantos dos teus amores
que a tenra carne fica dura, choras

e dos que ficarem darás louvores.
E veras envelhecer mas não borras,
de criatura, restara, os meus amores

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes